sábado, 8 de novembro de 2014

Complicado

Quando você não fala, as pessoas não entendem. Insistem, persistem, explicam a natureza humana, resgatam toda a história da civilização até chegarem em um motivo palpável para convencer-te a falar e se expressar mais. Se expor.
E quando você finalmente fala, vomita todas as palavras que elas querem ouvir (sinceramente, como elas adoram ouvir as doces palavras que afagam seus egos), paira-se o silêncio. O maldito silêncio. Ninguém fala nada, suas palavras ficam a deriva ecoando nas paredes frias, e as pessoas... Bem, elas se calam. E o que anteriormente era silêncio oco, começa a transformar-se numa massa de vergonha, arrependimento, traição e desapontamento.
Onde está o sentido em pedir que você se exponha quando não pretendem fazer nada a respeito após ouvir e matarem a curiosidade? É cruel, na melhor escolha da palavra. É de uma frieza sem tamanho induzir alguém para depois largá-lo a deriva.
As pessoas se instigam muito pela curiosidade e se esquecem que, talvez, em alguma situação, o alvo de sua curiosidade envolve sentimentos de alguém. Elas se fazem interessadas pelo assunto só para recolher informações e alimentar o monstro-bisbilhoteiro, depois dão o fora sem sequer ter o trabalho de fingir um pingo de importância e respeito pela situação.
E aí eu te pergunto: estou eu errada em manter todas as situações e todos os sentimentos apenas para mim? Que sentido teria abrir meu peito para alguém, liberar todos os meus segredos e deixar-me metaforicamente nua perante quem não pode fazer nada a respeito da minha situação? Talvez possa até me oferecer uma palavra ou outra de conforto, mas tenho comigo que conforto não paga conta e não cura feridas profundas. O tempo sim. O silêncio também.
Já sou conformada com essa situação... com a minha situação, no caso. A situação de guardar tudo, sentir muito e falar pouco.
Só gostaria, se não fosse pedir muito, que antes de agir por curiosidade, as pessoas considerassem mais os sentimentos que englobam aquela situação e tivessem um pouco mais de compaixão pelo próximo.
Obrigada, de nada.

terça-feira, 29 de julho de 2014

X da questão

Sou eu, o problema sou eu, eu sei disso, nunca neguei. O problema é a minha insegurança, o problema é a minha falta de paciência. O problema é minha incapacidade de ouvir o que as pessoas me dizem, mesmo quando são coisas boas. E geralmente são coisas boas, do tipo "o seu futuro é bom, você tem uma aura plena e bondosa que te reserva boas coisas" ou "ele parece gostar de você, se preocupa até demais, comenta o quanto te acha bonita e como o seu perfume ficou nele depois daquele abraço de bom dia". E o problema não é que eu não acredito nessas coisas, eu só suspeito demais de tudo. Cada fala me parece ensaiada, cada elogio me parece prévio, como se falassem buscando conquistar algo em mim que me tornaria frágil e exposta. E aí eu me fecho, fico reclusa dos comentários, dos conselhos, palpites, do mundo. Me trancafio nesse meu mundo onde tudo é enganação e mentira, onde todos fazem tudo com intenções distorcidas e maldosas. É nesse mundo cru que eu vivo dentro da minha cabeça, e ele me machuca como uma rosa nos espeta o dedo, trazendo aquele sentimento de traição em seguida.
Digo não esperar demais de ninguém, mas falo isso esperando muito. Sei que me desapontarei, finjo não esperar nada e no final me desaponto comigo mesma. E a voz dentro de mim ri sem parar de como sou tola. Ela me mostra constantemente os absurdos que cometo, como pareço tão firme e determinada ao mundo e como sou, na verdade, uma bobinha que ainda se magoa com uma palavra mal dita.
E acha que eu me importo?
No mundo em que vivo, dentro e fora da minha cabeça, o importante é manter a compostura e a muralha levantada para que ninguém consiga se aproximar o suficiente para me machucar. Nesse mundo aqui dentro de mim, as pessoas são demônios da dor e do desespero, gritam sem parar, arranham minhas estruturas. No mundo exterior, as pessoas são apenas pessoas, vivem em busca de seus objetivos e nem sempre estão cientes do poder que tem sobre mim.
Então sim, eu sou o problema, eu sou o x da questão. Não falo e espero que ouçam. Não demonstro, mas espero que saibam. Não explico e espero que entendam. E vivo constantemente esperando sem agir. Constantemente me machucando com minhas próprias ações. Ou com a falta delas.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Soneto XVIII

Como hei de comparar-te a um dia de verão?
Se és muito mais bela e mais amável.
Os ventos sopram os doces botões de maio
E o Sol finda antes que possamos começá-lo.
Por vezes, o Sol lança seus cálidos raios,
Ou esconde o rosto dourado sob a névoa.
E tudo que é belo um dia acaba,
Seja pelo acaso ou por sua natureza.
Mas teu eterno verão jamais se extingue,
Ou perde o frescor que só tu possuis.
Nem a morte vira arrastar-te sob a sombra,
Quando os versos te elevarem à eternidade:
Enquanto a humanidade puder respirar e ver,
Viverá meu canto, e ele te fará viver. 

- Shakespeare

Ponta da corda

Dizem que não podemos mudar as pessoas, que só mudam aqueles que querem mudar.
Mentira.
Nós somos capazes de moldar as pessoas de acordo com nossas personalidades, de acordo com nossas posições no mundo.
Existem pessoas dominantes, existem as submissas e aquelas que se adaptam ao ambiente ao seu redor.
As pessoas dominantes sempre saem por cima, tomam a frente em qualquer relação, seja essa profissional ou amorosa. Elas sabem exatamente como contorcer situações e torná-las favoráveis para si mesma.
As pessoas submissas sempre estão buscando agradar, com suas cabeças baixas e as opiniões guardadas lá no fundo, pensando que não existe razão para expressar seus pontos de vista. Elas sabem fazer a vontade dos outros... dos dominantes.
E as pessoas adaptáveis estão sempre se camuflando no ambiente. Se encontram pessoas submissas, elas tomam a frente e se tornam dominantes da situação. E ao lidar com dominantes, elas se abaixam para a submissão e servem seu dominador.
Agora, mesmo que cada um tenha um desses perfis, a maneira como você é interfere na maneira como a pessoa será com você. Pessoas mais duras, mais secas, acabam ofuscando um pouco a doçura dos outros, que acham que tratá-la com romantismo será mal visto. Por isso essas pessoas acabam sendo tratadas da mesma maneira como tratam o próximo. E o mesmo vale para aquelas submissas doces, que são tão meigas e obedientes que atraem respeito e doçura também (às vezes alguns folgados pra pisar em cima, mas...).
Então, se você não gosta da maneira como te tratam, tente rever a maneira como você é com o próximo. Talvez sua aspereza, mesmo que inocente, afaste a delicadeza das pessoas que estão ao seu redor.
O que você é molda como as pessoas serão com você. Então sim, nós temos o poder de fazer o próximo. Nós fazemos constantemente.
Se não gosta, basta mudar a si próprio.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Frustrado

O dicionário define frustração como "expectativas não realizadas; não obter êxito". Mas eu defino frustração num único ato: tentar controlar a vida. Tentar controlar o que não tem controle. Tentar, estupidamente, definir o fluxo do incerto.
Aceitar alguém sem ter a menor ideia do que aquela pessoa será no seu futuro (ou se ao menos ela fará parte desse futuro) é um tiro arriscado. Talvez até idiota. Afinal de conta, pessoas são imprevisíveis e as chances de sofrimento são significativamente maiores que de felicidade eterna.
Isso, amigo, é frustrante.
Diante de tantas escolhas na vida, fechar os olhos e apontar o dedo para uma delas, se deixar guiar pelo fluxo do universo e ter coragem o suficiente para ir sem saber onde está pisando.
Isso, caro, é frustrante.
E no caminho não ache que a coragem será o suficiente. O medo é inato, o medo é forte e consome. A coragem nem sempre vence. Nem sempre. E talvez teus conflitos internos te coloque barreiras que - não duvide - são fortes o suficiente para te fazer recuar. E aí você vai pensar "será que vale mesmo a pena arriscar tanto?".
Sim, isso é frustrante.
Talvez não dê certo, talvez aquele "alguém" desconhecido saia da sua vida tão repentinamente quanto entrou; ou talvez te faça sofrer, deixando uma marca que dificilmente se apagará. Talvez aquela decisão feita com olhos fechados tenha sido a pior dentre todas as outras e não, a cara quebrada que você ganhará no final não valerá o risco.
Mas se você não continuar, rapaz, como é que vai saber se essa bagunça vai ou não dar certo? Lógico, fugir sempre é mais fácil, se deixar frustrar e escapar das decisões da vida é o caminho mais fácil.
Mas é o melhor?
E a felicidade você encontra onde? Afinal de contas, todo sabem que ela não vem fácil.
Esse é o preço da frustração.
Felicidade.
Quer risco melhor?
Nem sempre ir atrás do desconhecido te trará sentimentos bons, nem sempre resultará em coisas boas. Mas você nunca saberá qual o tesouro dentro do baú se não for atrás.
Então vamos, dê a cara à tapa e descubra.
Pode doer, mas dor o tempo leva embora.
A felicidade cria laços e lembranças que nem o tempo é capaz de levar.
Coloque na balança e tire suas medidas.

quinta-feira, 27 de março de 2014

O outro lado da lua

É no escurecer que o bicho pega.
Durante o sol são só sorrisos, abraços e papos ao acaso.
Mas quando o breu vem, sou só eu e mais ninguém.
Não existe coerência nem clareza.
Me fecho em um mundo enlouquecedor, com meus pensamentos psicodélicos que ameaçam explodir a cabeça.
Não gosto que as pessoas me vejam num estado que eu própria não me reconheço.
Prefiro me esconder à receber os olhares de desapreço.
Mas quando a gente já levou muita porrada e mantém o bom senso de ser social e educado,
A noite é o que nos sobra para ser fechado.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Última vez

Deixamos de fazer e ficamos remoendo depois o arrependimento. Mas, tentando pensar com clareza, não foi melhor assim? Quer dizer, por que complicar mais e deixar mais lembranças para se recordar naquele dia frio e cinzento?
Sentir que algo acabou, que definitivamente acabou, não é fácil. Não é bom. Nenhum final é. E mesmo que não existisse contato antes, existia sentimento. Sempre existirá.
Eu aprenderei a lidar com o que, queira ou não, carregarei para toda a vida.